sábado, 28 de maio de 2011

Uma carta de produtor rural do RJ - Para aqueles com alguma afinidade com a agropecuária do Estado do RIo de Janeiro, refletirem

Publicada em 26/05/2011 às 17h44m


"No Estado do Rio, as terras agrícolas estão abandonadas. A mata se recompõe lentamente, a olhos vistos, nos pastos e nas lavouras abandonadas. São poucas as exceções: algumas lavouras de hortaliças, uns poucos sítios ainda tirando um leitinho, uns fazendeiros da cidade que teimam em tocar suas fazendas, mais por gosto do que pelo retorno, em geral negativo.

Terra no Rio não é investimento. Aqui, um alqueire não vale tantas arrobas de boi ou sacas de soja. Pode valer tanto R$ 2.000 quanto R$ 20.000. Se você compra, não sabe quando consegue vender. Esta é uma das razões do abandono das nossas terras.

Outra é que a agricultura moderna, tecnificada, não é viável no estado. As terras estão cansadas depois de abastecer a capital por quase 500 anos com lenha e carvão; a topografia dominante impede a mecanização, e, principalmente, porque na prática não existe mais mão de obra rural. Os prefeitos do interior foram os primeiros a incentivar a urbanização, doando casas, facilitando loteamentos ou fechando os olhos às invasões. As prefeituras abandonaram as escolas rurais em troca do transporte escolar das crianças das fazendas onde moram até a cidade, dando força ao abandono do campo.

As antigas fazendas, cujo maior tamanho poderia justificar uma escala de produção compatível com as modernas tecnologias, ficaram sem moradores. Enquanto faltam casas nas cidades, nas grandes fazendas elas se desmancham por falta de moradores.

Não temos papeleiras que comprem madeira de reflorestamento, não temos proximidade das fontes de grãos para a criação competitiva de suínos ou suplementação de rebanhos leiteiros. Nossos pastos são inadequados à engorda de gado. Na pecuária, restam poucos produtores de leite. Sobram uns poucos fazendeiros na engorda de gado, assim como famílias dedicadas à produção de hortaliças. Talvez ainda meia dúzia de fazendas de cana na Baixada Campista e uns cafeicultores teimosos (ou muito capitalizados) na serra.

Em vez de criar restrições ainda maiores à agonizante atividade agropecuária no Rio tornando mais restritivo o relatório de Aldo Rebelo, melhor seria incentivar os fazendeiros que não têm como dar valor às suas terras a deixar o mato crescer. Com algum esforço, seria possível selecionar espécies que prescindissem de maiores tratos. Assim, em 20 ou 30 anos, poderíamos ter novamente o Rio coberto pela Mata Atlântica que tanta falta faz. As terras recobertas por florestas poderiam, através da comercialização de direitos ambientais, voltar a ter valor de mercado. Melhor do que deixar pastos e lavouras tomados por cupins e pragas.

Para os que teimam em produzir alguma coisa, boa sorte. Para esses sobreviventes, o relatório do Aldo seria um mal menor. "

FREDERICO AMORIM é produtor rural.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Resumo expandido publicado no Simpósio de Papaya

ÁREA: Manejo Cultural


DIFERENTES TIPOS DE AMBIENTES DE CULTIVO E A OCORRÊNCIA DE PENTANDRIA EM FRUTOS DE MAMOEIRO DO GRUPO ‘SOLO’

Luiz Aurélio Peres Martelleto1, Raul de Lucena Duarte Ribeiro2, Mariluci Sudo Martelleto3 e Aldir Carlos Silva4




INTRODUÇÃO

Embora a expressão do sexo no mamoeiro (Carica papaya L.) seja controlada geneticamente, estudos sobre a fisiologia de sua floração registram influência marcante dos fatores ambientais. Couto & Nacif (1999) e Dantas et al. (2002) já verificaram que a disponibilidade de nitrogênio no solo pode promover deformações florais que culminam no aparecimento de frutos denominados de carpelóides (“cara-de-gato”) e/ou de pentândricos. No entanto, conforme afirmaram Ronse & Smets (1999) os estudos relativos à biologia floral do mamoeiro (Carica papaya L.) cultivado no Brasil são incipientes.

O desenvolvimento dos órgãos reprodutivos resulta de um número de processos independentes, porém altamente coordenados. Usualmente se inicia com a percepção de um determinado fator ambiental, o qual determina a diferenciação celular, convergindo para a formação do primórdio floral (DEFAVARI & MORAES, 2002).

Sabe-se que o percentual de flores pentandras em mamoeiro, é significativamente correlacionada com temperatura mínima ambiente e taxa de crescimento da planta. Por outro lado, temperaturas muito elevadas influenciam no processo reprodutivo de mamoeiros hermafroditas, provocando aumento do número de flores masculinas (AWADA, 1958; ALMEIDA et al., 2003).

O presente estudo teve por objetivo avaliar o desempenho do mamoeiro ‘Baixinho de Santa Amália’ cultivado em diferentes tipos de ambiente de proteção, com relação à ocorrência de frutos pentândricos.



MATERIAL E MÉTODOS

Para estabelecer as condições ambientais construiu-se uma estrutura tipo túnel, com 25,00 m de comprimento, 8,00 m de largura, pé-direito de 3,00 m e limite máximo (cumeeira) atingindo 4,50 m, coberta com polietileno de baixa densidade (PEBD) e revestida nas partes laterais e frontais com tela clarite anti-afídica (malha de 0,24 mm). Em 50% dessa estrutura, utilizou-se tela sombrite (30% de interceptação de luz) sobre o plástico, formando, por conseguinte, dois ambientes de cultivo, com dimensões de 12,50 m de comprimento por 8,00 m de largura, denominados de estufa e de estufa sombreada. Ao lado da estrutura descrita, montou-se um telado de dimensões idênticas (12,50 x 8,00 m), também com pé-direito de 3,00 m e revestido apenas com sombrite (30% de interceptação de luz). Ocupando área vizinha, procedeu-se ao cultivo do mamoeiro em ambiente natural.

No centro de cada ambiente, a 1,80 m do nível do solo, foi colocado um termômetro de máxima e mínima, registrando-se diariamente a temperatura do ar. A quantidade de radiação fotossinteticamente ativa foi determinada por meio do aparelho “Portable Photosynthesis System” (IRGA – Licor 6200) durante dias de sol pleno.

Foram preparadas 24 covas em cada ambiente, no espaçamento de 2,00 x 1,90 m. As mudas foram transplantadas em março/2004. Por ocasião da sexagem, foram eliminadas as plantas fêmeas, mantendo-se uma única planta hermafrodita em cada cova.

Após a sexagem, 50% das plantas, obedecendo ao modelo experimental, tiveram suas gemas apicais incisadas visando a bifurcação do tronco.

A consistiu em efetuar-se um corte longitudinal, em relação ao tronco, dividindo a gema apical em duas partes similares, até aproximadamente 3 cm de profundidade

Desde maio de 2004, coletou-se e contou-se, semanalmente, o número de frutilhos pentândricos abortados em cada planta. Contou-se, também, o número de frutos pentândricos aderidos na planta no final de cada mês, descartando-os. Essas determinações ocorreram até cumprir-se um ano do ciclo do mamoeiro e na totalidade das plantas.

Para efeito de análise de variância, foram considerados quatro blocos por tratamento (ambiente de cultivo), com três repetições do modo de condução das plantas (com e sem bifurcação do tronco) por bloco. Para análise estatística, considerou-se o teste de homocedasticidade, envolvendo as variâncias em cada tratamento, conforme metodologia preconizada por Pimentel-Gomes (2000) e procedeu-se a “análise conjunta de experimentos”.



RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nos meses de agosto de 2004 e de janeiro de 2005 houve efeito significativo (P<0,01) dos ambientes de cultivo sobre a pentandria (Tabela 01).





Tabela 01. Efeito do ambiente de cultivo sobre o número de frutilhos pentândricos por mamoeiro ‘Baixinho de Santa Amália’, durante o primeiro ano de produção em cultivo orgânico (Seropédica/RJ, 2004/2005).

Mês Estufa Estufa sombreada Telado Ambiente natural QMr1/QMr2 CV(%)

jun/04 0,25# 0 0 0 --- 436,9

jul/04 0,13# 0 0 0 --- 496,3

ago/04 1,00a 0 0 0,2b 5,5 347,3

set/04 0,88# 0,04# 0 0 65,8 364,1

out/04 1,88# 0,2a 0 0,2a 1,3 404,2

nov/04 1,58# 0,1a 0 0,3a 2,4 238

dez/04 0,63a 0 0 0,4a 1,2 258,6

jan/05 0,63a 0 0,17b 0,17b 5,2 257,3

fev/05 0,25# 0 0 0 9,7 457,5

mar/05 1,13# 0,04a 0,04a 0 1 282,6

abr/05 2,08# 0 0,04a 0,2a 2,9 192,3

mai/05 0,30# 0 0 0,1 10,1 304,9

Média 0,89# 0,03# 0,02# 0,12 17,7 154,2

Efeito (%) 632,3 -71,4 -82,9 -

* Médias seguidas pela mesma letra nas linhas, não diferem entre si pelo teste de Tukey (P>0,05). QMr1 e QMr2 = Quadrado médio do resíduo maior e menor dentro dos experimentos, respectivamente. # = médias não comparadas em razão de heterocedasticidade da variância.

Na estufa ocorreu maior quantidade de frutos pentândricos do que no ambiente natural. Nos demais ambientes não se pode tirar conclusões com respaldo estatístico, dado à condição errática dos dados e ou número diminuto de frutilhos pentândricos.

Não obstante essas dificuldades, a análise estatística quando possível, indicou maior ocorrência desses frutilhos na estufa, alcançando cerca de 632% a mais do que no ambiente natural, com referência à média anual. Nota-se que os ambientes sombreados restringiram o percentual de frutilhos pentândricos pelo mamoeiro, embora essa assertiva não tenha sido comprovada.

Tanto na estufa quanto no ambiente natural de cultivo, o máximo número de frutilhos pentândricos (abortados + desfrutados) se deu por ocasião da primavera, fruto do processo de ontogenia floral ocorrente no inverno anterior, sugerindo que as baixas temperaturas favoreceram e vigor da planta, contribuíram para a formação desses frutos anormais (Figura 01). Resultados que concordam com aqueles já verificados por Awada (1958) e Almeida et al. (2003).



Figura 01. Efeito do tipo de ambiente de cultivo orgânico do mamoeiro ‘Baixinho de Santa Amália’ sobre o número médio de frutilhos pentândricos por planta, durante o primeiro ano de produção (Seropédica/RJ, 2004/2005).



CONCLUSÕES

1- No ambiente coberto apenas com o plástico (estufa) há um aumento marcante da formação de frutos pentândricos.

2- O maior sombreamento do mamoeiro restringe a ocorrência de frutos pentândricos.

3- As menores temperaturas do inverno favorecem a maior formação de frutos pentândricos, os quais se manifestam durante a primavera seguinte.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AWADA, M. Relationships of minimum temperature and growth rate with sex expression of papaya plants (Carica papaya L.). Honolulu: University of Hawaii, 1958. 16p. (University of Hawaii. Technical Bulletin, 38).

ALMEIDA, 1999

ALMEIDA, F.T. de; MARINHO, C.S.; SOUZA, E.F.de; GRIPPA, S. Expressão sexual do mamoeiro sob diferentes lâminas de irrigação na Região Norte Fluminense. Revista Brasileira de Fruticultura v.25 n.3 Jaboticabal, SP:UNESP. p.383-385. Dez. 2003.

COUTO, F.A.D.; NACIF, S.R. (1999) Hibridação em mamão. In:BORÉM, A. Hibridação artificial de plantas. Viçosa, MG: UFV. 307-329 p.

DEFAVARI, D.; MORAES, L.A.C. Fisiologia da floração. In: CASTRO, P.R.C.; SENA, J.O.A.; KLUGE, R.A. Introdução à fisiologia do desenvolvimento vegetal. Maringá:Eduem, 2002. p.191-210

PIMENTEL-GOMES, F. Curso de estatística experimental. Piracicaba,SP: ESALQ, 2000. 477p.

RONSE, L. y E. SMETS. The floral development and anatomy of Carica papaya (Caricaceae). Canadian Journal of Botany , v.77, p. 582-598. 1999.

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